quinta-feira, 24 de março de 2011

Além da janela, pela televissão

Observar além da janela é algo perturbador. Prefiro muito mais observar o que há na televissão. Nem preciso ir longe. Não preciso olhar além dela, nem à sua frente. Olho ela, sem grandes esforços. Olhar além da janela é cansativo, precisamos ver uma paisagem inteira... as árvores raras, os carros que passam continuamente, as ondas de prédios que se formam, o vento a carregar as núvens e, ainda por cima, ter que sentir ao mesmo tempo o frio ou o calor vindos da janela.
Pela televissão não há nada disso. Dão zoom para gente. Dão zoom para gente no que "é" mais importante se ver. Mostram a nós como as mulheres andam de cabeça erguida nas ruas e como os homosexuais são cada vez mais aceitos na sociedade. Dizem que em uma terra muito, muito distante acontecem problemas terríveis... Mas falam sobre o outro lado do mundo sobre coisas que, temos quase certeza, que nunca acontecerão por aqui.
Além da janela, a situação é outra, vemos a traição assoar as ruas, as músicas bizarras criadas, as conversas sem sentido dos amigos, a decepção continua de conhecidos que antes se mostravam os seres mais alegres do mundo, vemos o preconceito, as enchentes, os desabamentos de terra, as brigas, o medo avassalador da violência. Vemos tudo sem zoom, escolhemos os caminhos que queremos seguir, nos aproximamos apenas deles... Dá muito trabalho.
Na televissão, vemos que a felicidade está logo ali... Que podemos encontrar um principe encantado na próxima esquina, sem esforço... Que podemos ter muitos amigos e muitores amores, basta comprar produto x ou y.
Pela janela, percebemos que comprar produtos não trazem a felicidade. Vemos milhares de pessoas que compram e compram... fazem dívidas para comprar e, depois, se entristecem com tais dívidas gigantescas. Notamos, porém, que a tecnológia pode nos ajudar e muito nas ações do dia-a-dia e facilitar o nosso trabalho. E, então, crianças aparecem nas ruas, reclamando do tédio.
Na tv não há nada disso. Não há tédio, tudo é muito dinâmico. Em 5 minutos se ressumem as cenas de um dia todo. Em menos de 2 minutos, contam a notícia mais chocante do mundo.
O irreal pode ser milhões de vezes mais satisfatório que a realidade. Os sonhos, que temos com os olhos fechados, costumam ser perfeitos. Mas é doentil demais viver sem abrir os olhos.

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